AS
JUVENTUDES
(Texto
extraído das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica - MEC, 2013, páginas 155-157)
Os estudantes do Ensino
Médio são predominantemente adolescentes e jovens. Segundo o
Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), são considerados jovens os
sujeitos com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos, ainda que a
noção de juventude não possa ser reduzida a um recorte etário
(Brasil, 2006).
Entender a juventude do
Ensino Médio em suas múltiplas
dimensões significa
superar uma noção homogeneizante e naturalizada desse estudante,
passando a percebê-lo como sujeito com especificidades
próprias que não estão restritas às dimensões biológica e
etária, com valores, comportamentos, visões de mundo, interesses e
necessidades singulares.
Além disso, deve-se
também aceitar a existência de pontos em comum que permitam
tratá-lo como uma categoria social. A identidade juvenil situa-se em
processo de contínua transformação individual e coletiva, a partir
do que se reconhece que o sujeito do Ensino Médio é constituído e
constituinte da ordem social, ao mesmo tempo em que, como demonstram
os comportamentos juvenis, preservam autonomia relativa quanto a essa
ordem. Segundo Dayrell, a
juventude é “parte de um processo mais amplo de constituição de
sujeitos, mas que tem especificidades que marcam a vida de cada um. A
juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma
passagem; ela assume uma importância em si mesma. Todo esse processo
é influenciado pelo meio social concreto no qual se desenvolve e
pela qualidade das trocas que este proporciona”.
(2003).
Além das vivências
próprias da juventude, o jovem está inserido em processos que
questionam e promovem sua preparação para assumir o papel de
adulto, tanto no plano profissional quanto no social e no familiar.
Pesquisas sugerem que, muito frequentemente, a juventude é entendida
como uma condição de transitoriedade, uma fase de transição para
a vida adulta (Dayrell, 2003). Com isso, nega-se a importância das
ações de seu presente, produzindo-se um entendimento de que sua
educação deva ser pensada com base nesse “vir a ser”.
Reduzem-se, assim, as possibilidades de se fazer da escola um espaço
de formação para a vida hoje vivida, o que pode acabar relegando-a
a uma obrigação enfadonha. Muitos jovens, principalmente os
oriundos de famílias pobres, vivenciam uma relação paradoxal com a
escola. Ao mesmo tempo em que reconhecem seu papel fundamental no que
se refere à empregabilidade, não conseguem atribuir-lhe um sentido
imediato (Sposito, 2005). Destacam-se
sua ansiedade em relação ao futuro, sua necessidade de se fazer
ouvir e sua valorização da sociabilidade.
Vivem ansiosos por uma
escola que lhes proporcione chances mínimas de trabalho e que se
relacione com suas experiências presentes.
Além de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra forma
recorrente de representar a juventude é vê-la como um tempo de
liberdade, de experimentação e irresponsabilidade (Dayrell, 2003).
Essas duas maneiras de representar a juventude – como um “vir a
ser” e como um tempo de liberdade – mostram-se distantes da
realidade da maioria dos jovens brasileiros. Para
esses, o trabalho não se situa no futuro, já fazendo parte de suas
preocupações presentes.
Uma pesquisa realizada com jovens de várias regiões brasileiras,
moradores de zonas urbanas de cidades pequenas e capitais, bem como
da zona rural, constatou que 60% dos entrevistados frequentavam
escolas. Contudo, 75% deles já estavam inseridos ou buscando
inserção no mundo do trabalho (Sposito, 2005). Ou
seja, o mundo do trabalho parece estar mais presente na vida desses
sujeitos do que a escola.
Muitos jovens abandonam a escola ao conseguir emprego, alegando falta
de tempo. Todavia, é possível que, se os jovens atribuíssem um
sentido mais vivo e uma maior importância à sua escolarização,
uma parcela maior continuasse frequentando as aulas, mesmo depois de
empregados. O desencaixe
entre a escola e os jovens não deve ser visto como decorrente, nem
de uma suposta incompetência da instituição, nem de um suposto
desinteresse dos estudantes. As análises se tornam produtivas à
medida que enfoquem a relação entre os sujeitos e a escola no
âmbito de um quadro mais amplo, considerando as transformações
sociais em curso. Essas
transformações estão produzindo sujeitos com estilos de vida,
valores e práticas sociais que os tornam muito distintos das
gerações anteriores (Dayrell, 2007). Entender tal processo de
transformação é relevante para a compreensão das dificuldades
hoje constatadas nas relações entre os jovens e a escola.
Possivelmente, um dos aspectos indispensáveis a essas análises é a
compreensão da constituição da juventude.
A formação dos
indivíduos é hoje atravessada por um número crescente de
elementos. É diante de um público juvenil extremamente diverso, que
traz para dentro da escola as contradições de uma sociedade que
avança na inclusão educacional sem transformar a estrutura social
desigual – mantendo acesso precário à saúde, ao transporte, à
cultura e lazer, e ao trabalho – que o novo Ensino Médio se
depara. As desigualdades sociais passam a tensionar a instituição
escolar e a produzir novos conflitos.
Diante do exposto,
torna-se premente que as escolas, ao desenvolverem seus projetos
político pedagógicos, se debrucem sobre questões que permitam
ressignificar a instituição escolar diante de uma possível
fragilização que essa instituição venha sofrendo, quando se trata
do público alvo do Ensino Médio, considerando, ainda, a necessidade
de acolhimento de um sujeito que possui, dentre outras, as
características apontadas anteriormente.
CONCEPÇÕES
DE ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE
(Texto
extraído do Projeto Político Pedagógico do
Colégio Zardo, p. 47 - 48)
A
juventude no Brasil está dividida em duas fatias: a fatia em
condição social de extrema carência (os excluídos) e a fatia em
condição social favorável (os incluídos). O referencial
normatizador da juventude é o consumo. Esse
é o critério que determina se a pessoa vai se enquadrar no grupo
dos excluídos ou dos incluídos. Embora o jovem seja considerado,
pela publicidade, um alvo em potencial para o consumo, o Estado não
consegue fazer com que essa posição de consumidor se concretize.
Como consequência disso, vemos a marginalização e a criminalidade.
E para os que não fazem mais parte da juventude, resta o olhar
nostálgico sobre ela. É então que, através da lógica de mercado,
busca-se recuperar a juventude num processo de identificação com os
valores dos jovens.
Comumente, surge um
conflito entre as diferentes gerações. Afinal, da mesma maneira que
os velhos têm interesse em remeter os jovens a sua juventude, os
jovens também têm interesse em remeter os velhos a sua velhice. Há
períodos em que se intensifica a procura do "novo", pela
qual os "recém-chegados" (que são também, quase sempre,
os mais jovens biologicamente) empurram os "já chegados"
para o passado, para o ultrapassado, para a morte social ("ele
está acabado"). Estamos aqui, no auge da luta entre as
gerações; pois, é nesse momento que as trajetórias de ambos se
chocam: quando os jovens aspiram "cedo demais" à sucessão.
Essa fronteira entre juventude e velhice é muito relativa, sendo
construída socialmente na luta entre jovens e velhos; já que as
relações entre idade social e idade biológica são complexas e o
número de anos que uma pessoa já viveu tem um significado que lhe é
próprio.
No campo de trabalho, é
comum encontrar dois estados do sistema escolar em confronto no
mercado de trabalho. Enquanto os velhos têm mais experiência, os
jovens estão chegando com mais títulos. Essa tensão cria,
frequentemente, uma situação desfavorável ao jovem que, mesmo bem
qualificado, sente que não é bem vindo no seu local de trabalho ou
até mesmo quando está buscando um emprego.
Outra questão sobre a
inserção do jovem no mercado de trabalho é o status que isso lhe
traz. “Ainda hoje uma das razões pelas quais os adolescentes das
classes populares querem abandonar a escola e começar a trabalhar
muito cedo, é o desejo de ascender o mais rapidamente possível ao
estatuto de adulto e às capacidades econômicas que lhes são
associadas: ter dinheiro é muito importante para se afirmar em
relação aos colegas, em relação às meninas, para poder sair com
os colegas e com as meninas, portanto para ser reconhecido e se
reconhecer como um ‘homem’.” (Bourdieu, 1983). Isso só vem
confirmar o que já foi dito anteriormente: o referencial
normatizador dos jovens é, realmente, o consumo.
Referências
BOURDIEU, P. A "juventude" é apenas uma palavra! Questão de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. p. 112-121.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional
e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara
Nacional de Educação Básica.
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação
Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral.
Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
562p. p. 155-157.
DAYRELL, J. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação. set./out./nov./dez. 2003.
______; LEÃO, G.; REIS, J. Juventude, pobreza e ações sócioeducativas
no Brasil. In SPOSITO, M. P. (coord.). Espaços públicos e tempos
juvenis. São Paulo: Global, 2007. p. 47-82.
KUENZER, A. (org.). Ensino médio: Construindo uma proposta para os que vivem do trabalho. São
Paulo: Cortez, 2000.
PARANÁ. Projeto Político Pedagógico do Colégio Francisco Zardo. Curitiba, 2012. p. 47-48.
SPOSITO, M. P. Algumas reflexões e muitas indagações sobre as relações
entre juventude e escola no Brasil. In ABRAMO, H. e BRANCO, P. P. (orgs).
Retratos da juventude brasileira. Análises de uma pesquisa nacional. São Paulo:
Instituto da Cidadania/Editora Fundação Perseu Abramo, 2005. p. 129-148.
_________________________________
QUESTÕES
1.
Com
base nos fragmentos acima apresentados das Diretrizes Nacionais e do
PPP do
Colégio Zardo,
qual a sua percepção / representação dos nossos jovens alunos em
relação à cultura, a socialização, a aprendizagem e o mundo do
trabalho?
2.
Discorra sobre uma experiência de
aprendizagem positiva em sua disciplina que envolveu os jovens e
levou-os à participação e ao interesse nas aulas.
3.
Considerando a necessidade de oferecer
condições de incentivo ao retorno e à permanência para os
estudantes que
a abandonaram, que
aspectos relacionados
a aprendizagem precisariam mudar na
escola?