Compreender o fenômeno
da VIDA e sua complexidade de relações, na disciplina de Biologia,
significa analisar uma ciência em transformação, cujo caráter
provisório permite a reavaliação dos seus resultados e possibilita
repensar, mudar conceitos e teorias elaborados em cada momento
histórico, social, político, econômico e cultural.
Essa concepção
metodológica permite que um mesmo conteúdo específico seja
estudado em cada um dos conteúdos estruturantes, considerando-se a
abordagem histórica que determinou a constituição daquele conteúdo
estruturante e o seu propósito.
Assim,
se o desenvolvimento dos conteúdos estruturantes se der de forma
integrada, na medida em que se discuta um determinado conteúdo
relacionado ao conteúdo estruturante Biodiversidade,
por exemplo, requerem-se conhecimentos relacionados aos conteúdos
estruturantes Mecanismos
Biológicos e
Organização
dos Seres Vivos para
compreender por que determinados fenômenos acontecem, como a VIDA se
organiza na Terra e quais implicações dos avanços biológicos são
decorrentes da manipulação do material genético, conteúdo este
relacionado ao conteúdo estruturante Manipulação
Genética.
Pretende-se discutir o
processo de construção do pensamento biológico presente na
história da ciência e reconhecê-la como uma construção humana,
como luta de idéias, solução de problemas e proposição de novos
modelos interpretativos, não enfatizando somente seus resultados.
As explicações para o
surgimento e a diversidade da vida levam à proposição de
conhecimentos científicos, os quais conviveram e convivem com outros
sistemas explicativos, tais como: teológicos, filosóficos e
artísticos.
Com a introdução de
elementos da história, torna-se possível compreender que há uma
ampla rede de relações entre a produção científica e o contexto
social, o econômico, o político e o cultural, verificando-se que a
formulação, a validade ou não das diferentes teorias científicas,
estão associadas ao momento histórico em que foram propostas e aos
interesses dominantes do período.
Ao considerar o embate
entre as diferentes concepções teóricas propostas para compreender
um fato científico ao longo da história, torna-se evidente a
dificuldade de consolidar novas concepções, em virtude das teorias
anteriores, pois estas podem agir como obstáculos epistemológicos.
Importa, então, conhecer
e respeitar a diversidade social, cultural e as idéias primeiras do
aluno, como elementos que também podem constituir obstáculos à
aprendizagem dos conceitos científicos que levam à compreensão do
conceito VIDA.
Como recurso para
diagnosticar as idéias primeiras do aluno é recomendável favorecer
o debate em sala de aula, pois ele oportuniza análise e contribui
para a formação de um sujeito investigativo e interessado, que
busca conhecer e compreender a realidade. Dizer que o aluno deva
superar suas concepções anteriores implica promover ações
pedagógicas que permitam tal superação.
Saviani (1997) e Gasparin
(2002) apontam que o ensino dos conteúdos, neste caso conteúdos
específicos de Biologia, necessita apoiar-se num processo pedagógico
em que:
As ciências biológicas
têm apresentado uma expansão em seus conteúdos no decorrer dos
tempos.
De uma ciência que se
concentrava na descrição e nos conhecimentos qualitativos, com o
desenvolvimento na bioquímica e na biofísica, de processos
experimentais e de mensuração, bem como da análise estatística, a
biologia passou a ser um campo de conhecimento com leis gerais, o que
alargou e aprofundou suas dimensões, tornando muito difícil para o
professor decidir o que deve ser fundamental, portanto incluído em
seu curso e o que deve ser acessório, podendo consequentemente ser
deixado de lado. (KRASILCHIK, 2004, p. 45).
Essa expansão contribuiu
para o caráter enciclopédico assumido pela prática pedagógica,
inclusive pela falta de critérios de seleção que permitissem ao
professor decidir o que era fundamental e o que era acessório.
A esse caráter
enciclopédico somou-se a questão do tempo escolar, obviamente
insuficiente para abranger um currículo tão extenso. Assim, os
professores justificavam sua prática a - histórica, cuja intenção
era divulgar os resultados da ciência.
Se, por um lado, os
conteúdos se tornavam a - históricos e enciclopédicos, por outro,
não se abria mão do conhecimento científico que garantia o objeto
de estudo da Biologia.
Estas Diretrizes
Curriculares para o ensino de Biologia firmam-se na construção a
partir da práxis do professor. Objetiva-se, portanto, trazer os
conteúdos de volta para os currículos escolares, mas numa
perspectiva diferenciada, em que se retome a história da produção
do conhecimento científico e da disciplina escolar e seus
determinantes políticos, sociais e ideológicos.
A proposição dos
conteúdos estruturantes na disciplina de Biologia sugere,
inicialmente, a possibilidade de selecionar conteúdos específicos
que farão parte da proposta curricular da escola. Outra
possibilidade, igualmente importante, é relacionar os diversos
conhecimentos específicos entre si e com outras áreas de
conhecimento, propiciando reflexão constante sobre as mudanças
conceituais em decorrência de questões emergentes.
Os quatro paradigmas
metodológicos do conhecimento biológico, abordados anteriormente, o
descritivo, o mecanicista, o evolutivo e o da manipulação genética
representam um marco conceitual na construção do pensamento
biológico identificado historicamente. De cada marco define-se um
conteúdo estruturante e destacam-se metodologias de pesquisa
utilizadas, à época, para compreender o fenômeno VIDA, e cuja
preocupação está em estabelecer critérios para seleção de
conhecimentos desta disciplina a serem abordados no decorrer do
ensino médio.
Embora os conteúdos
estruturantes tenham sido identificados como concepções
paradigmáticas do conhecimento biológico localizadas no tempo
histórico, eles são interdependentes, pois se considera neste caso,
o esforço empreendido:
• a
prática social se
caracterize como ponto de partida, cujo objetivo é perceber e
denotar, dar significação às concepções alternativas do aluno a
partir de uma visão sincrética, desorganizada, de senso comum a
respeito do conteúdo a ser trabalhado;
• a
problematização implique
o momento para detectar e apontar as questões a serem resolvidas na
prática social e, por conseqüência, estabelecer que conhecimentos
são necessários para a resolução destas questões e as exigências
sociais de aplicação desse conhecimento;
• a
instrumentalização consiste
em apresentar os conteúdos sistematizados para que os alunos
assimilem e os transformem em instrumento de construção pessoal e
profissional. Os alunos devem se apropriar das ferramentas culturais
necessárias à luta social para superar a condição de exploração
em que vivem;
• a
catarse seja
a fase de aproximação entre o conhecimento adquirido pelo aluno e o
problema em questão. A partir da apropriação dos instrumentos
culturais, transformados em elementos ativos de transformação
social, o aluno passa a entender e elaborar novas estruturas de
conhecimento, ou seja, passa da ação para a conscientização;
• o
retorno à prática social se
caracterize pela apropriação do saber concreto e pensado para atuar
e transformar as relações de produção que impedem a construção
de uma sociedade mais igualitária. A visão sincrética apresentada
pelo aluno no início do processo passa de um estágio de menor
compreensão do conhecimento científico a uma fase de maior clareza
e compreensão, explicitada numa visão sintética. O processo
educacional põe-se a serviço da referida transformação das
relações de produção.
Ao adotar esta estratégia
e ao retomar as metodologias que favoreceram a determinação dos
marcos conceituais apresentados nestas Diretrizes Curriculares para o
ensino de Biologia, propõe-se que sejam considerados os princípios
metodológicos usados naqueles momentos históricos, porém,
adequados ao ensino da atualidade.
Para cada conteúdo
estruturante, propõe-se trabalhar os seguintes aspectos:
Organização
dos Seres Vivos
O trabalho pedagógico
neste conteúdo estruturante deve ser permeado por uma concepção
metodológica que permita abordar a classificação dos seres vivos
como uma das tentativas de conhecer e compreender a diversidade
biológica considerando, inclusive, a história biológica da VIDA.
Desse modo, fica evidente a impossibilidade de discutir a
classificação sem considerar as contribuições dos estudos sobre
filogenética.
Mecanismos
Biológicos
Neste conteúdo
estruturante é importante que o professor considere o
aprofundamento, a especialização e o conhecimento objetivo dos
mecanismos biológicos. Para que se compreendam os sistemas vivos
como fruto da interação entre seus elementos constituintes e da
interação destes com os demais componentes do meio, é importante
adotar concepções metodológicas que favoreçam o estabelecimento
de relações entre os diversos mecanismos de funcionamento e
manutenção da vida.
Biodiversidade
Nestas propostas
pedagógicas, pretende-se que as reflexões propostas pelo trabalho
pedagógico neste conteúdo estruturante sejam permeadas por uma
concepção metodológica que permita abordar as contribuições de
Lamarck e Darwin para superar as idéias fixistas já superadas há
muito pela ciência e supostamente pela sociedade. Pretende-se a
superação das concepções alternativas do aluno, com a aproximação
das concepções científicas, procurando relacionar os conceitos da
genética, da evolução e da ecologia, como forma de explicar a
diversidade dos seres vivos.
Manipulação
Genética
Ao propor este conteúdo
estruturante pretende-se que o trabalho pedagógico seja permeado por
uma concepção metodológica que permita a análise sobre as
implicações dos avanços biológicos que se valem das técnicas de
manipulação do material genético para o desenvolvimento da
sociedade.
Ao utilizar a
problematização como uma abordagem metodológica no desenvolvimento
dos quatro conteúdos estruturantes, parte-se do princípio da
provocação e mobilização do aluno na busca por conhecimentos
necessários para resolver problemas. Estes problemas relacionam os
conteúdos da Biologia ao cotidiano do aluno para que ele busque
compreender e atuar na sociedade de forma crítica.
Atenção especial deve
ser dada à maneira como os recursos pedagógicos serão trabalhados
e aos critérios político-pedagógicos da seleção destes recursos,
de modo que eles contribuam para uma leitura crítica e para os
recortes necessários dos conteúdos específicos identificados como
significativos para o ensino médio.
O uso de diferentes
imagens em vídeo, transparências, fotos, textos de apoio usados com
freqüência nas aulas de Biologia, requerem a problematização em
torno da demonstração e da interpretação. Analisar quais os
objetivos e expectativas a serem atingidas, além da concepção de
ciência que se agrega às atividades que utilizam estes recursos,
pode contribuir para a compreensão do papel do aluno frente a tais
atividades.
Estratégias de ensino
como a aula dialogada, a leitura, a escrita, a atividade
experimental, o estudo do meio, os jogos didáticos, entre tantas
outras, devem favorecer a expressão dos alunos, seus pensamentos,
suas percepções, significações, interpretações, uma vez que
aprender envolve a produção/criação de novos significados, pois
esse processo acarreta o encontro e o confronto das diferentes idéias
propagadas em sala de aula.
Práticas tão comuns em
sala de aula, a leitura e a escrita merecem atenção, porque por um
lado são repletas de significações e por outro podem levar a
interpretações equivocadas do conhecimento científico. Elas são
demarcadoras do papel social assumido pelo professor e pelos alunos e
devem ser pensadas a partir do significado das mediações, das
influências e incorporações que os alunos demonstram.
As atividades
experimentais, sejam elas de manipulação de material ou
demonstrativa, também representam importante estratégia de ensino.
Para a realização dessas atividades, não é preciso um aparato
experimental sofisticado, mas a organização, discussão e análise,
de procedimentos que possibilitem a interação com fenômenos
biológicos, a troca de informações entre os grupos que participam
da aula e, portanto, a emergência de novas interpretações.
De acordo com estas
propostas pedagógicas, as atividades experimentais podem ser o ponto
de partida para desenvolver a compreensão de conceitos ou permitir a
aplicação das idéias discutidas em aula, de modo a levar os alunos
a aproximarem teoria e prática e, ao mesmo tempo, permitir que o
professor perceba as explicações e as dúvidas manifestadas por
seus alunos.
Nas atividades
experimentais demonstrativas é preciso permitir a participação do
aluno e não apenas tê-lo como observador passivo. Algumas vezes, a
atividade prática demonstrativa implica a idéia da existência de
verdades definidas e formuladas em leis já comprovadas, isto é, uma
ciência de realidade imutável.
De outro lado, a
atividade experimental, como resolução de problemas ou de
hipóteses, pode trazer uma concepção de ciência diferente, como
interpretação da realidade, de maneira que as teorias e hipóteses
são consideradas explicações provisórias. Nesse caso,
estabelece-se maior contato do aluno com o experimento e com a
atitude científica.
Outra estratégia que,
além de integrar conhecimentos, veicula uma concepção sobre a
relação ser humano-ambiente e possibilita novas elaborações em
pesquisa, é o estudo do meio. Este estudo pode ocorrer em locais
como: parques, praças, terrenos baldios, praias, bosques, rios,
zoológicos, hortas, mercados, aterros sanitários, fábricas, etc.
Também os jogos
didáticos contribuem para gerar desafios, conforme Moura (1994), o
jogo é considerado uma estratégia impregnada de conteúdos
culturais a serem veiculados na escola. Ele detém conteúdos com
finalidade de desenvolver habilidades de resolução de problemas, o
que representa a oportunidade de traçar planos de ações para
atingir determinados objetivos.
Ainda com relação à
abordagem metodológica, é importante que o professor de Biologia,
ao elaborar seu plano de trabalho docente, garanta o previsto na Lei
n. 10.639/03 que torna obrigatória a presença de conteúdos
relacionados à história e cultura afro-brasileira e africana.
Igualmente deve ser resguardado o espaço para abordagem da história
e cultura dos povos indígenas, em concordância com a Lei n.
11.645/08.
A abordagem pedagógica
sobre a história e cultura afro-brasileira e africana, bem como,
sobre a cultura indígena, poderá ser desenvolvida por meio de
análises que envolvam a constituição genética da população
brasileira. Os conteúdos específicos a serem trabalhados devem
estar relacionados tanto aos conteúdos estruturantes quanto aos
conteúdos básicos da disciplina de forma contextualizada,
favorecendo a compreensão da diversidade biológica e cultural.
Quanto ao trabalho
envolvendo a educação ambiental, em concordância com a Lei n.
9.795/99 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental,
este deverá ser uma prática educativa integrada, contínua e
permanente no desenvolvimento dos conteúdos específicos. Portanto é
necessário que o professor contextualize esta abordagem em relação
aos conteúdos estruturantes, de tal forma que os conteúdos
específicos sobre as questões ambientais não sejam trabalhados
isoladamente na disciplina de Biologia.
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QUESTÃO 1
Após a leitura do item “Encaminhamento Metodológico” constante na Proposta Pedagógica Curricular da sua disciplina, pontue, a partir do mencionado nesse item, o que faz parte da sua rotina em sala de aula e o que não faz, explicando as razões.
QUESTÃO 2
O que precisa ser alterado / modificado para fins de atualização nesse item da Proposta Pedagógica Curricular de sua disciplina? Explicite o que precisa ser aprofundado de modo a expressar a realidade e almejar o alcance da concepção da disciplina.