Não somos pescadores
domingueiros, esperando o peixe.
Somos agricultores,
esperando a colheita, porque a queremos muito,
porque conhecemos as
sementes, a terra, os ventos e a chuva,
porque avaliamos as
circunstâncias e porque trabalhamos seriamente.
(Danilo Gandin)
A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/96),
em seu artigo 12, inciso I, prevê que “os estabelecimentos de
ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino,
tem a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”,
deixando explícita a ideia de que a escola não pode prescindir da
reflexão sobre a intencionalidade educativa.
A
palavra Projeto deriva do latim
projecto
significa
Plano Geral de um Trabalho, desígnio, empreendimento, iniciativa
(FERNANDES, LUFT E GUIMARÀES, 1999, pág. 541)
O
Projeto Político Pedagógico é, então, um documento que se
constitui, tomando o seu sentido etimológico, em um plano geral para
a educação. Todavia, “mais que um documento burocrático”,
contemplado na LDBEN, o PPP é um meio de engajamento coletivo para
integrar ações dispersas, criar sinergias. Veiga (1998) esclarece
as questões conceituais sobre o tema ao afirmar que o projeto
pedagógico não é um conjunto de planos e projetos de professores,
nem somente um documento que trata das diretrizes pedagógicas da
instituição educativa, mas um produto específico que reflete a
realidade da escola, situada em um contexto mais amplo que a
influência e que pode ser por ela influenciado. Portanto, trata-se
de um instrumento que permite clarificar a ação educativa da
instituição educacional em sua totalidade. É mais do que responder
a uma solicitação formal. É a reflexão e a contínua expressão
de dar direção e orientação a uma idéia, a um processo
pedagógico intencional alicerçado nas reflexões e ações do
presente (PEREIRA, 2007).
O
projeto político-pedagógico não é modismo e nem é documento para
ficar engavetado em mesa na sala de direção da escola, ele
transcende o simples agrupamento de planos de ensino e atividades
diversificadas, pois é um instrumento do trabalho que indica um
rumo, uma direção e construído com a participação de todos, como
explicam André (2001) e Veiga (1998). Ele “é político no sentido
de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de
sociedade” (ANDRÉ, 2001, p. 189) e é pedagógico porque
possibilita a efetivação da intencionalidade da escola, que é a
formação do cidadão participativo, responsável, compromissado,
crítico e criativo.
Veiga
(2001) traz importantes contribuições sobre está temática quando
trata da construção de um projeto pedagógico em uma dimensão
política e como prática especificamente pedagógica. Esta autora
apresenta algumas características, tais como: a) ser processo
participativo de decisões; b) preocupar-se em instaurar uma forma de
organização de trabalho pedagógico que desvele os conflitos e as
contradições; c) explicitar princípios baseados na autonomia da
escola, na solidariedade entre os agentes educativos e no estímulo à
participação de todos no projeto comum e coletivo; d) conter opções
explícitas na direção de superar problemas no decorrer do trabalho
educativo voltado para uma realidade específica; e, e) explicitar o
compromisso com a formação do cidadão.
Libâneo
(2001, p. 125) aborda está temática ao destacar que o projeto
pedagógico “deve ser compreendido como instrumento e processo de
organização das escolas”, tendo em conta as características do
instituído e do instituinte.
Vasconcellos
(1995) reforça este entendimento, afirmando que o projeto pedagógico
“é um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a
enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma
refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é
essencial, participativa. E uma metodologia de trabalho que
possibilita resignificar a ação de todos os agentes da
instituição.” (p. 143).
No
Estado do Paraná, o PPP deve ser construído coletivamente em
consonância com o sistema público de ensino (articulação). Sua
continuidade deve ser “atemporal”, isto é: precisa de médio e
longo prazo para se perpetuar de acordo com a realidade da escola. A
temporalidade para a consolidação do PPP é trabalhar num horizonte
histórico com o futuro à partir do presente. No Colégio Zardo, a
redação do PPP é atualizada por meio de discussões e reescrito
para a validade de três anos.
O
Projeto Político-Pedagógico, originado no seio da coletividade
docente, discente, administrativa e segmentos da sociedade fornece
uma identidade à instituição, representa espaço onde possam se
manifestar as experiências acumuladas, as necessidades singulares, o
planejamento sistematizado das ações, enfim, uma oportunidade de
tomarem as rédeas da direção a seguir.
Como
mencionado na Apresentação, o presente documento está organizado
de acordo com a proposição organizativa de Celso Vasconcelos e
Danilo Gandin: Marco Referencial, Diagnóstico e Programação.
No
Marco
Referencial está
expressa a posição da instituição que planeja em relação à sua
identidade, visão de mundo, utopia, valores, objetivos,
compromissos. Indica o 'rumo', o horizonte, a direção que a
instituição escolheu, fundamentado em elementos teóricos da
filosofia, das ciências, apoia-se em crenças, na cultura da
coletividade envolvida. Implica, portanto, opção e fundamentação.
É nele que está o sentido do trabalho pedagógico e as grandes
perspectivas para a caminhada rumo a sua concretização. A
função maior do Marco
Referencial é a de tensionar
a realidade no sentido da sua superação / transformação e, em
termos metodológicos, fornecer parâmetros, critérios para a
realização do Diagnóstico. Está organizado da seguinte forma:
Marco
Situacional
(onde estamos, como vemos a realidade); Marco
Conceitual
(para onde queremos ir) e Marco
Operacional
(que horizonte queremos para nossa ação). O
Marco
Situacional
é a percepção do grupo em torno da realidade em geral: como a vê,
quais seus traços mais marcantes, qual a relação do quadro
sócio-econômico, político e cultural mais amplo e o cotidiano da
escola. Sua importância se deve ao fato de que pode desvelar os
elementos estruturais que condicionam a instituição e seus agentes.
Neste Marco o que se pretende é a explicitação de uma visão geral
da realidade e não apenas uma análise da instituição na
perspectiva micro, pois isto será feito na fase do Diagnóstico. O
Marco Conceitual equivale aos princípios norteadores do ideal geral
da instituição escolar.
Fundamenta a proposta de sociedade, pessoa e educação assumida pelo
grupo que compõe a equipe escolar e sua comunidade. Embora
toda educação se baseie numa visão de homem e de sociedade, nem
sempre as escolas explicitam ou discutem consciente e
intencionalmente as concepções subjacentes às suas práticas. O
processo de elaboração do Marco Conceitual dá esta oportunidade
tanto de explicitação, quanto de debate e busca de um consenso
mínimo em torno de conteúdos epistemológicos, éticos,
políticos-pedagógicos, metodológicos. O
Marco Operacional é a explicitação do ideal da instituição
escolar, tendo em vista aquilo que queremos ou devemos ser. Diz
respeito a organização das ações da coletividade escolar naqueles
campos de atuação que compreendem a as três principais dimensões
que configuram a práxis educativa, quais sejam: a dimensão
pedagógica,
a
dimensão comunitária
e a dimensão
administrativa.
A elaboração do Marco Operacional, deve ser compatível e coerente
com o Marco Situacional e, em especial, com o Marco Conceitual, pois,
caso isso não ocorra, pode haver desarticulação entre a realidade
geral e as grandes finalidades assumidas.
No
Diagnóstico
estão as características atuais da escola, suas limitações e
possibilidades, os seus elementos identificadores, a imagem que se
quer construir quanto a seu papel na comunidade em que está
inserida. Esse levantamento dos traços identificadores da escola
constitui um “diagnóstico”
que
servirá de base para a definição dos objetivos a perseguir, do
modelo de gestão a ser adotado, dos conteúdos que devem ser
trabalhados, das formas de organização e funcionamento da unidade
escolar e sua função social no contexto local e global.
E
por fim, na Programação
está a definição do que vai ser feito e dos meios para a superação
dos problemas detectados, em busca da qualidade
da educação oferecida pela escola. É a proposta de ação. Ou
seja: definição do que é necessário e possível fazer para
diminuir a distância entre o que a escola é e o que deveria ser.
Quanto à periodicidade, a programação tem abrangência de três
anos, com revisão anual. A Programação é, portanto, o conjunto de
ações concretas definidos pela instituição, no espaço de tempo
disponível, que tem por objetivo superar as necessidades
identificadas. Dito
de outra forma, é a proposta de ação para sanar (satisfazer) as
necessidades apresentadas pelo Diagnóstico (Gandin,1991:45).
A
escola é um espaço privilegiado, onde seus membros podem
experimentar ser atores do processo educativo e é isso que suscita a
construção de um Projeto Político Pedagógico.
No
PPP do Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, através da ação
de seus membros, fez-se a previsão daquilo que se deseja
transformar, tanto no que se refere à concepções teóricas como
práticas, voltando-se para a operacionalização das grandes metas
da escola, de modo que possua prestar serviço à sociedade,
preparando o aluno/aluna para se instalar no mundo em que vive,
interpretando e pensando a realidade como um todo, de forma autônoma,
tornando-o capaz de criticar e desenvolver expectativas e projetos em
relação ao conjunto da sociedade.
Esse
entendimento é essencial para a transformação dos processos que se
desenvolvem no âmbito da escola, tanto de caráter pedagógico
quanto administrativo.
Transformar
componentes pedagógicos implica em transformar os objetivos da
escola, estabelecendo o que se pretende atingir, deixando clara sua
intencionalidade, no tipo de formação que se deseja para seus
alunos/alunas levando-se em conta os valores, costumes e
manifestações culturais, enfim, as necessidades de sua comunidade.
Para tanto, alguns desses componentes pedagógicos destacam-se com
básicos na condução do processo educativo e devem ser pensados
pelos membros da escola de modo que se configurem clara e
coerentemente com a proposta pedagógica que as faz. São eles a
Avaliação, a Metodologia, o Currículo, o Conhecimento e o
Planejamento.
Transformar
na ação é a ideia chave do processo. Isso se faz, criando,
mudando, incrementando novas formas de pensar e de agir, aproveitando
o saber, a experiência, valorizando “o saber dos que sabem”.
Alterar relações, mudar, transformar é uma ousadia que se propõe
aos educadores, pais, alunos, funcionários, parceiros, colaboradores
e demais participantes do processo educacional. Isso está se
tentando ser gestado na própria escola, de dentro para fora, num
processo dinâmico, flexível e acima de tudo, autocrítico, a fim de
reconhecer limites e superá-los. Essa abertura ao trabalho coletivo
e participativo dentro da escola, desencadeia novos relacionamentos
e, nesse processo, vai-se configurando o “embrião” da identidade
da escola, da sua marca exclusiva e única delineada no seu projeto
político–pedagógico. Há que se mudar as relações no âmbito da
escola, na teoria e na prática, porque só assim esta alcançará
objetividade em seu fazer.
(Projeto Político Pedagógico - Colégio Zardo (versão preliminar). Curitiba, 2015)
Relato:
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Entrevista com Ilma Passos - Nós da Educação
Queria as referências bibliográficas do texto, por favor me digam onde posso encontrar os autores citado no texto...
ResponderExcluirsim precisando
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